Entrevista com o Geraldo Martins.

Há pouco tempo o Geraldo Martins me surpreendeu dizendo que estava imaginando buscar uma reparação política junto à comissão   anistia do Min. da Justiça. Eu lhe perguntei, com ar de deboche, se ele tinha alguma vez na vida sido perseguido pela ditadura. Foi quando ele me expôs seu passado de "comuna" em Unaí. Hoje ele expoem para todos o ocorrido, após decisão da Comissão de Anistia, sendo o segundo beneficiado, pois o Dr José Adjuto Filho foi o primeiro. Acredito que o sofrimento do Doutor não foi maior do que o do "peão" Geraldo. Então nada mais do que justo. Vejam.

UPT – Geraldo, como se deu sua prisão. Você era realmente um subversivo de alta periculosidade?
Resposta: São duas perguntas, e esta primeira merece uma explicação detalhada, por tanto vou responder por etapa. Eu era na década de 70, um estudante secundarista do antigo Colégio Rio Preto, era um líder estudantil na cidade, e fui eleito Presidente da UMESU - União Municipal dos Estudantes Secundários de Unaí. Era também Funcionário Publico Municipal onde ocupava um cargo de confiança do Sr. Prefeito da época. A minha prisão se deu em meu local de trabalho, escritório do antigo D.A.F.L da Prefeitura Municipal (onde eu ocupava o cargo de encarregado hoje equivalente o de diretor), este departamento cuidava da energia elétrica na cidade, na época dos motores este Departamento foi posteriormente incorporado pela CEMIG. Na mesma época e pelo mesmo prefeito foi criado outro departamento semelhante o S.A.A.E. Os agentes da DITADURA chegaram à região em busca dos chamados comunistas, e efetuaram minha prisão de maneira arbitrária e ilegal, pois não tinham mandato judicial nem motivo para isso. O Capitão do exército que comandava a operação me colocou em um cubículo onde tinha um papel pregado à porta escrito incomunicável. Foram em minha residência e deram uma busca completa, depois se dirigiram à casa do estudante, revistaram tudo, destruíram praticamente a biblioteca da casa do estudante e apreenderam livros e vários documentos. Questionado por mim, quando me levaram para o interrogatório, sobre o motivo da minha prisão, responderam que eu tinha escrito um artigo em um jornalzinho chamado JORMESU fazendo criticas a eles, chamavam de gloriosa REVOLUÇÃO de março de 64, a famosa DITADURA. No referido jornalzinho eu fazia criticas a perseguição desencadeada pelo regime militar ao presidente J.K. E também criticava a guerra do Vietnam. Tema atual da época. Falaram que por isso que eu tinha escrito eu era um subversivo. Os agentes me interrogaram brutalmente, queriam saber de mim da atuação em Unaí de uma senhorita chamada “Lidia” de tal Senhor “Carlos” e de uma senhora de nome “Loreta” que segundo eles eram comunistas e pertenciam a uma organização chamada Ação Popular, A.P - Ação Popular. Fato esse que eu desconhecia, conhecia apenas a Senhorita Lidia, pois ela fez muitas doações de livros ajudando muito a montar a biblioteca da Casa do Estudante, foi uma antiga namorada do Nininha, o fundador do movimento estudantil de Unaí e quem adquiriu o terreno onde com ajuda dos estudantes da comunidade e da prefeitura construímos a Casa do Estudante de Unaí. Interessante é que este prédio foi doado verbalmente pelo Juiz da época a antiga Fundação José Albino que ficou muitos anos atuando como uma creche no local. Esta fundação encerou suas atividades. Hoje o local está totalmente abandonado e depredado. Mas se querendo, os atuais estudantes secundaristas de Unaí poderão recuperar este patrimônio recriando a UMESU e reativando a Casa do Estudante pois a tal DOAÇÃO foi verbal e sem documentos e a escritura do terreno está em nome da UMESU. Um dia após ser solto estando já de volta ao trabalho no DAFL fui procurado pelo Sr. Prefeito da época que me informou que ele teria que dispensar os meus serviços pois o capitão lhe falou que na Prefeitura não poderia trabalhar Subversivo, e eu estava sendo fichado no DOPS como tal, ele falou que seria melhor eu pedir demissão para evitar mais constrangimentos. Eu me recusei a assinar tal papel junto ao Departamento de Pessoal, mesmo assim o decreto da minha exoneração consta que fui exonerado a pedido. Mas na realidade o pedido foi da DITADURA.
OBS. Todos os fatos narrados poderão ser comprovados com documentos fornecidos pelo Arquivo Publico Mineiro, Prefeitura Municipal, e depoimento de 10 testemunhas idôneas conhecedoras dos fatos pois entrei em juízo com uma ação de justificação previa.
Bem, vamos a segunda parte da pergunta.
Se eu era um subversivo de alta periculosidade, Repondo que NÃO, eu na realidade era um nacionalista IDIOTA como fui classificado no relatório feito na época pelo capitão comandante da operação. E não previ as conseqüências de desafiar a DITADURA e como se diz entrei de gaiato. Não nego que já tinha sim lido muitos livros de Godim da Fonseca sobre a Revolução Cubana, admirava o Fidel e o Che e já tinha lido vários livros onde se falava dos ideais de Bolívar e José Martin, lia muitos jornais considerados de esquerda e ficava revoltado com os horrores da guerra do Vietnam, e como todo jovem idealista desta época inclusive a maioria dos jovens do próprio EUA que faziam manifestações pedindo o final da guerra . Mas de periculosidade e subversivo eu não tinha nada, tinha sim um ideal e sonhava com um mundo mais justo, humano e fraterno.

UPT – Em qual organização você militava?
Resposta: Como Já expliquei Militava no movimento Estudantil de Unaí e por fazer um curso no Departamento Estadual de Águas e Energia em BH por uns seis meses ai militei na União Colegial de Minas Gerais, viajei muito por todo o Estado de Minas Gerais Organizando os Secundaristas, fui um dos seus vices presidente da entidade, mas retornando a Unaí, não militei mais a nível estadual, comparecia apenas a congressos estudantis da região.

UPT – Quais eram os líderes desta organização em Unaí, região e no Estado?
Resposta: A década de 70 ficou conhecido como ANOS DE CHUMBO, foram postos na ilegalidade todos os movimentos estudantis do Brasil com os famosos decretos 228 e 447 o nosso líder Maximo em Unaí e fundador do movimento Estudantil foi Geraldo Caetano Costa, o popular Nininha. Em MG era o Jovem João Batista Bueno Guerra presidente da UCMG, que posteriormente foi candidato a Deputado Estadual pelo antigo MDB, ele teve o apoio dos estudantes e uma votação muito expressiva em Unaí, suplantando em numero de votos inclusive o candidato oficial do partido que era o Sr. Rui Jordão de Paracatu; ele era apoiado pelo diretório local do MDB . Tinha o Cleber Lima da Silva que foi eleito na época o prefeito mais jovem do Brasil, na cidade Visconde do Rio Branco, Tínhamos vários outros companheiros. O Atual Dep. Federal José Santana, que atualmente é muito votado em Unaí era à época um líder deste movimento estudantil em Minas Gerais só que com idéias mais a direita e simpatizava com a DITADURA militar.

UPT – Você teve algum companheiro desaparecido?
Resposta: O Ex Companheiro João Batista Bueno Guerra foi assassinado no estado do Espírito Santo, já estando formado em Direito, desconheço os detalhes deste fato, a Senhorita Lídia, segundo os documentos do DOPS, foi presa e levada para BH e posteriormente à Juiz de Fora. Segundo rumores, ela é dada como desaparecida.
Mas no Movimento Estudantil temos inúmeros fatos comprovados, de tortura de companheiros que sacrificaram a própria vida pela causa. Sem nenhum espírito de revanchismo gostaria que todos os arquivos da DITADURA militar fossem abertos, pois temos o direito de conhecer a nossa história, para que fatos como este (golpe militar) não se repitam jamais no Brasil e prevaleça a democracia; Pois ela com seus erros e defeitos (que são inerentes do ser humano) é sem dúvida o melhor regime. Democracia quer dizer governo do povo e para o povo, e somente nós o povo deve ser o dono do nosso destino e escolher livremente nossos governantes, respeitando sempre o desejo da maioria. Intervenção somente do poder judiciário, pois cabe a ele julgar nossos atos.

UPT – Confesso que nunca vi em você qualquer traço subversivo e até mesmo esquerdista. A ditadura militar era esquizofrênica, via chifre em cabeça de cavalo?
Resposta: Você tem em parte razão, os agentes da DITADURA viam chifre em cabeça de cavalo, talvez para tentar mostrar serviço, Eu não era, não sou, nem me considero um subversivo. Mas... Não nego tive e tenho até hoje um ideal de ver um mundo mais humano, com melhor distribuição de renda, onde todos tenham oportunidade de ter educação, mudo sem fome e miséria. Vou me rotular politicamente socialista cristão. Identifico-me com a chamada teologia da libertação, composta pelo chamado clero progressista e pelos pastores pela paz. Sempre gostei de ler, li o manifesto comunista, muito bonito na teoria, mas na pratica a humanidade ainda não está preparada para por em prática, como também com raríssimas exceções não praticam os ensinamentos do Divino Mestre, repartir o pão com quem tem fome. Li com grande admiração vários livros sobre a bela história da revolução Cubana, que foi baseada na grandiosa obra de José Martin e Simon Bolívar, hoje tenho predileção de ler os escritos de Frei Beto, e do teólogo Leonardo Boff e acompanho com simpatia a transformação política que esta passando a chamada “Nostra América” com seus governos progressistas. Em Cuba, Venezuela, Bolívia, Argentina, Brasil, Equador, Paraguai, Uruguai. Etc. O Comandante Fidel Castro tem nos mostrado com suas reflexões o caminho da integração e da solidariedade latino-americana. Nos últimos anos tenho visitado muito Cuba, apesar das carências materiais causadas pelo covarde bloqueio econômico, o povo tem em sua grande maioria uma boa educação e muito boa saúde publica. Fidel é adorado pela grande maioria do seu povo, a “famosa” oposição tão alardeada pela imprensa burguesa são uns gatos pingados. O cubano é um povo extremamente solidário, Cuba é um local que quase não tem violência, além disso como falou Cristovão Colombo quando descobriu a América (Cuba é a terra mais bela que os olhos humanos já viram). Conheço vários países do mundo, mas o que eu mais gosto é de Cuba. Aproveito a oportunidade de seu blog para convidar os leitores a visitarem Cuba, pois sou atualmente representante na região da Ecotur (agencia de Viagem que vende pacotes para Cuba e Caribe)

UPT – Quando você se atinou para a reparação política e econômica? A ditadura realmente trouxe a você prejuízos financeiros?
Resposta: Em conversa com o saudoso Dr. José Adjuto Filho (o primeiro anistiado político de Unaí) tomei conhecimento da existência da anistia política e da possibilidade de também ser anistiado e ter uma reparação econômica. A minha dificuldade estava em reunir todas as provas e documentos pertinentes, comentando o caso com o Coronel Geraldo Oliveira, (pessoa que hoje é meu amigo e lhe tenho grande admiração) fui informado que os papeis do antigo DOPS do Estado de Minas Gerais se encontrava aberto para consulta no Arquivo Publico Mineiro em Belo Horizonte. De posse desta informação fui à BH e consegui uma copia da minha ficha, que constava toda minha atuação no movimento estudantil, inclusive o motivo da minha prisão no ano de 1.970. Procurei ainda o Arquivo Publico Nacional em Brasília, encontrei o restante do Material (minha fixa no SNI). Na Prefeitura consegui cópia dos antigos decretos da minha contratação e posterior demissão, logo após ter sido liberado pelo DOPS. Entrei na justiça local com uma ação onde foram ouvidas 10 testemunhas idôneas inclusive ex professores do antigo Colégio Rio Preto e um militar reformado que na época da minha prisão estava destacado na cidade, todas as testemunhas são conhecedoras dos fatos. Inclusive da minha demissão por motivo político pelo ex Prefeito Municipal, que foi pressionado pelo representante do regime militar. Não guardo mágoa do ex-prefeito, ao contrário, reconheço que ele foi um dos melhores prefeitos que já teve Unaí, e sou lhe grato por ter ocupado um cargo de sua confiança no município. Apesar de ter procurado, não tive ajuda de políticos, para ser anistiado com reparação econômica pois este não é um caso para ter um “padrinho político” e sim um caso de Justiça, foi decidido baseado na lei da anistia política. E todos conselheiros deram por unanimidade os seus votos favoráveis ao deferimento do meu pedido. Por julgarem ser ele de inteira justiça. Sobre sua pergunta se a DITADURA me trouxe prejuízo financeiro, deixo a avaliação e resposta a critério dos leitores do seu blog, somente esclareço novamente que todos os fatos narrados foram amplamente comprovados. Respeitarei e terei prazer de esclarecer qualquer comentário dos seus leitores, desde que não sejam feitos de maneira anônimas.

UPT – Está satisfeito com o desfecho dado pela Comissão de Anistia?
Resposta: Em parte sim, mas segundo a lei da anistia que tenho hoje um pouco de conhecimento (não é lei criada pelo presidente Lula ,PT, e sim pelo presidente Fernando Henrique, PSDB) no meu entender eu deveria receber por analogia o que recebe hoje o diretor do SAAE, que é bem mais que eu vou receber mensalmente em prestações continuada, (como uma aposentadoria). Mas como diz o ditado popular é melhor um passarinho na mão do que dois voando, vou receber o que foi aprovado pela comissão de anistia, depois vou ver se faço uma consulta a especialistas no assunto para saber se tenho direito de uma reparação econômica maior ou não. De toda maneira isso me lavou a alma, pois me considerava um injustiçado.

UPT - Na entrevista concedida pelo Branquinho ao UPT, você aparece ao lado dele; o BLOG recebeu vários comentários agressivos e desaforados contra sua pessoa. Para você, o Branquinho é o melhor nome de Unaí para 2012?
Resposta: Desaforos e criticas de pessoas que se escondem atrás do anonimato para mim não tem valor, são pessoas sem ética e sem pudor. Eu apesar de ter sido presidente do PT de Unaí por dois mandatos, ex membro do diretório estadual, candidato a Deputado Federal, candidato a Prefeito e ter conseguido trazer o Lula em Unaí, estou desiludido com a política, pedi minha desfiliação partidária por não concordar com várias atitudes do Partido e de alguns de seus políticos, portanto não tenho compromisso partidário, por tanto de livre vontade, sou eleitor e singelo cabo eleitoral do Branquinho para Prefeito em 2012. Isso simplesmente por gostar dele, e ver nele o melhor nome para prefeito de minha terra, pois ele tem muito serviço prestado na área social mesmo antes de ser político. Meu apoio a ele é espontâneo sem nenhum tipo de promessa de emprego ou vantagem financeira. Ele é o meu candidato preferido desde muito tempo (ele sabe disso) Sobre criticas que os oposicionistas fazem ao Branquinho e ao Prefeito umas são até construtivas, outras levianas e infundadas. Geni, o que seria de Unaí e de seu povo sem os chamados “plantadores de feijão?” A meu ver são desbravadores do nosso sertão.
Que estão trazendo para toda a região grande progresso e riqueza, sobre o triste episodio do assassinato dos fiscais do Ministério do Trabalho temos que pensar que ninguém pode ser condenado sem ser julgado. Não deveremos pré julgar, pois isso compete à justiça. A culpada pela demora de resolver este vergonhoso episódio.
E o município de Unaí e sua brava gente têm pago um alto preço por isso. Agora este ano o meu voto é para Dilma Presidente; Gov de MG. não voto no Helio Costa (Ainda vou escolher o candidato a Governador que vou votar); Deputado Federal, Voto em Silas Brasileiro, pois ele tem sido o melhor Dep. Federal Para Unaí; Dep.Estadual voto e trabalho para o Almir Paraca (um grande amigo).

UPT – Um dos comentaristas te chamou de Geraldo Capão, e você usa este apelido como peça de defesa no processo. Como surgiu este apelido?
Resposta: Este apelido não ajudou em nada ao deferimento da minha anistia política, mas vou tentar isso. Este tema tem três versões, a Primeira é que uma mulher que chamava Supriana me capou que não é verdade ela me deu uma facadinha nas costas, até com certa razão. A segunda é que ao cair de uma mangueira fiquei capão, o que também não é verdade, somente tive um corte na perna, última é que os agentes do DOPS me castraram também é mentira. A verdade é que me colocaram uma “mariquita,” máquina que causaram pequenos choques nas minhas partes genitais e me ameaçaram com o intuito de obterem informações que eu não tinha conhecimento. Na realidade isso se chama tortura, é terrível ser submetido a isso, principalmente não tendo culpa. Mas infelizmente este foi um método muito usado pela linha dura do regime militar na época com o intuito de obterem as informações que queriam, Mas tortura hoje é considerada um crime hediondo e punido com a máxima severidade pela lei

UPT – Fique a vontade para algo mais que queira dispor. O Blog UPT agradece sua disposição em reviver de público este momento de flagelo de sua vida e de todo o País.
Resposta: Esta é uma pequena parte da minha vida que se confunde com movimento estudantil da minha querida terra, Unaí; e por que não dizer pequenina parte da historia da Nação assolada por um regime militar que tanto infelicitou os Brasileiros, por que não de NOSTRA AMERICA por que os regimes militares ditatoriais desta época capitaneados pelo capitalismo selvagem infelicitaram todos os povos Sul-Americanos e Caribenhos. Sendo uma exceção Cuba. Aos leitores do seu blog, desculpas pelos erros de português, pois pelos percalços da vida tive que abandonar os estudos e me formar na escola da vida, desculpas também pelo tamanho das respostas. Mas para mim isso está servindo como um desabafo. Reconheço a minha insignificância, mas no meu coração não guardo mágoa nem dos policiais que me prenderam e me torturaram, pois do ponto de vista deles estavam no comprimento do dever. A você companheiro Geni, muito grato pela oportunidade .