Postagem do Paulo Gilberto no Blog
Cantinho. O título é de autoria do UPT.
Unaí destoou dos demais municípios do noroeste mineiro. Aqui, venceu o candidato tucano, José Serra, como já havia acontecido nas eleições presidenciais pretéritas. Um fato curioso é que Luiz Inácio Lula da Silva nunca venceu em Unaí, em qualquer turno das cinco eleições que disputou desde 1989.
O perfil do eleitorado unaiense é reconhecidamente conservador, tanto que é o único Município da região que nunca elegeu sequer um vereador vinculado à esquerda. O PT jamais teve representação na Câmara Municipal. As mulheres também não têm muita representatividade, bastando lembrar que em toda a sua história contam-se nos dedos de uma mão o número de vereadoras eleitas (Antonia Zely, Clélia Calderon, Marisa Costa, Dorinha Melgaço e Maria Auxiliadora).
Para ficar no exemplo, o vizinho município de Cabeceira Grande conta hoje com 3 (três) vereadoras na Câmara Municipal (mesmo número da legislatura anterior) e tem vereador eleito pelo PT. Na atual legislatura, nenhuma mulher ocupa cadeira na Câmara Municipal de Unaí.
Merece registro o fato de a Câmara Municipal de Cabeceira Grande já ter sido presidida, em 14 anos, por 5 (cinco) mulheres: Maria Alice, Dayse, Waldeth Santana, Flávia Vieira Reis e Elcana Vaz, sendo que Maria Alice presidiu o Legislativo por mais de uma vez.
Em Unaí, apenas duas mulheres assumiram a função de Chefe do Legislativo em quase 70 (setenta) anos de história: Antonia Zely da Costa e Dorinha Melgaço, atual Secretária de Ação Social do Município.
O fenômeno repete-se no Executivo, já que o único Prefeito com traço ideológico mais à esquerda foi Saint’Clair Martins Souto, embora a sua eleição tenha ocorrido em circunstâncias históricas e políticas totalmente diversas das que vivenciamos hoje.
Outro dado instigante é que engenheiros, médicos, educadores, empresários, comerciários, bancários e outros profissionais liberais não costumam concorrer a cargos eletivos em Unaí. Quando concorrem, invariavelmente não se elegem.
O conservadorismo é tão evidente que elegemos em 2004, para grande espanto da população brasileira, um candidato a Prefeito que se encontrava preso preventivamente e no meio de um turbilhão de acusações envolvendo o episódio que ficou conhecido como a “Chacina de Unaí”.
Definitivamente, não temos um eleitorado progressista. Isso não quer dizer que o nosso eleitor não saiba votar. É apenas a constatação de um aspecto ideológico do eleitor médio unaiense.
Tanto assim que dos nomes que são ventilados para a sucessão do atual Prefeito, tanto da situação quanto da oposição, não desponta nenhum partidário de ideias político-sociais avançadas. São citados alguns advogados, produtores rurais ou pessoas ligadas direta ou indiretamente à principal atividade produtiva local, mas que se encontram na cúpula da sociedade e que têm perfil igualmente conservador.
Voltando às eleições presidenciais, alguns mais simplistas poderão dizer que Dilma perdeu porque Unaí é um Município rico em que os programas sociais do governo federal não produzem resultado eleitoral, ao contrário dos demais municípios do Noroeste.
Esse raciocínio é desqualificado, já que Paracatu é um Município mais rico que Unaí, reconhecidamente com mais estrutura cultural, e lá Dilma venceu, além do fato de partidos de centro e de esquerda constantemente protagonizarem a vida política local, como PMDB e PT, rivalizando com o PSDB (que, apesar disso, ainda não chefiou o Executivo local).
Em Paracatu, ao menos no Legislativo, é comum a eleição de advogados, contadores, médicos, professores, líderes religiosos, comerciantes, comerciários, empresários, além de produtores rurais, fato que não acontece em Unaí com a frequência que seria desejada.
É possível afirmar, portanto, que em Unaí a propaganda subterrânea contra Dilma, realizada pelos que apoiaram José Serra e disseminada pela internet, calou mais fundo em razão do tradicionalismo do eleitor. Muitos acreditaram na onda de boatos sobre o PNDH3, o aborto, a fantasiosa acusação de guerrilheira, a mentira de que não pode visitar os EUA, entre tantos outros que mereceram a maior credibilidade por parte de pessoas aparentemente insuspeitas e esclarecidas.
Entre nós, infelizmente, esse tipo de terrorismo político e de boataria viceja e já foi utilizado inclusive em eleições municipais pretéritas. Por aqui, a desconstrução de biografias é tarefa mais fácil e é um método usado recorrentemente na disputa eleitoral.
Mas somente isso não explica a derrota de Dilma no Município, embora seja relevante para descortinar o que subjetivamente impulsiona o nosso peculiar eleitorado.
De qualquer modo, assim continuarão sendo as eleições por estas bandas (sejam federais, estaduais ou municipais), baseadas no conservadorismo de nossos cidadãos e no poderio econômico dos grupos e candidatos, até que tenhamos uma sociedade mais plural, diversificada e esclarecida.