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segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

A beleza da construção literária.

Unaí, “Parabéns pra você…”


Estas são algumas das belezas de Unaí que não são exploradas 
turisticamente por falta de um olhar mais demorado sobre este chão.

Queria estar feliz, mas estou triste. Não sei o que dizer, não sei o que faço, se devo comemorar o seu dia ou se debruço sobre o seu passado e choro as saudades  da sua fase áurea. Mas vou cantar quase inaudivelmente: “Parabéns Unaí pelos seus sessenta e sete anos de emancipação política.” Sim Unaí, você é uma jovem senhora emancipada. Há quase sete décadas Paracatu lhe deu a carta de alforria. Tirou-lhe da escravidão de pertencer… Mas hoje, no seu presente, o passado retornou com máscaras diversificadas e você se submeteu a elas! Acho que vou andar no descompasso da verdade, vou lançar um olhar demorado sobre seus sonhos e seus ganhos. Perdas? Ora você nada perdeu nem perderá nunca, está sempre crescendo na semeadura do cuidado, do carinho, do amor… Não, não é porque é seu aniversário que vou fingir que você não vive no avesso do que já foi; não consigo vê-la na cegueira do faz-de-conta. O seu avesso Unaí, são os contrários: contrários da beleza, contrário do cuidado, contrário do amor, do respeito, da dignidade. 

Hoje minha terra, você vive do inverso, do oposto do que foi um dia: uma cidade com o olhar direcionado para o crescimento financeiro intelectual e cultural, um município projetado para ser livre, não para viver nas grades invisíveis que nos empurram para os porões do cárcere do faz-de-conta que somos… Viver doloroso, nostálgico! Sei que você é o símbolo do arrependimento, “do me enganei…” Como se enganou meu cerrado, e através de tantos enganos, mais um sentimento doloroso aflora o seu seio: o viver na ausência da realidade e da verdade! Mas não faça disto uma forma de entrega, de desestímulo para o seu chão, ao contrário, estes tantos anos só serviram para uma reflexão sobre o que é ser cidadão. Espero sinceramente que esta lição, este aprendizado tão doloroso, fique arraigada em sua memória eternamente.

Sou uma apaixonada por você, mas não posso comemorar a sua vida, a sua existência, a sua libertação, porque estaria comemorando a inverdade, a inexistência, a invisibilidade, meu festejar seria exíguo. Não se comemoram as decadências, as ausências, os excessos do nada.

Conheço a sua e a minha insatisfação, conheço o seu  e o meu passado. São os únicos passados que eu posso escrever… E você retorna aos dias de menina, menina que cresce à beira do Rio Preto e vai se transformando em encantamento! Menina moça inefável, misteriosa, brejeira, onde o tempo tange a realidade no badalar do sino da igrejinha, no contar de anos. Acho meu cerrado, que estou tentando paralisar seus crepúsculos, porque no hoje, sua vida tem uma tendência à tristeza: Tristes são suas ruas nuas e sujas, tristes são as ameaças de quem as usa para ser, para ter, tristes são seus canteiros vazios de flores e cheios de mato, triste é o seu silenciar, silenciar de medo daqueles que a engana com o a “magnitude” da mediocridade.

Mas nem todos que pisam no seu chão Unaí, deixam marcas profundas da indiferença. E são estes que lhe oferecem o colo para que você adormeça e descanse da intermitência do retrocesso. Psiu… Psiu… Psiu… Parabéns prá você!!! Dorme Unaí, dorme… Está perto o seu acordar. Um acordar liberto, alforriada pelo seu povo que balançou o seu berço.
Alda Alves Barbosa

Obs: Os grifos são do UPT e sem a autorização da autora.

2 comentários:

Pedro disse...

Geni, deparei com este texto da Alda em seu Blog e fui lá na fonte e ao ler os comentários sobre o tal, li um comentário do Vice Branquinho. Achei suas palavras um pouco atravessada e logo em seguida li a replica da autora onde dá uma aulas, umas pauladas no Sr vice. Fiquei pensando comigo mesmo, o Sr vice perdeu uma grande oportunidade de ficar calado. Um homem que se pretende prefeito não pode levar uma descompostura desta ordem. Branquim, o povo de Unaí está reagindo.

Anônimo disse...

Pelo Amor de DEUS !!!! Dona Alda, escreve bonito demais, parabéns ! Essa eu indico para ser Secretaria da Cultura, digna de meu apreço.

Falando em "tristes são seus canteiros vazios de flores e cheios de mato"...ah quem dera se alguém olhasse para o jardim da nossa Matriz. Quem dera se a praça da matriz fosse tão bem cuidada como a Praça da Cirrose (perto da AABB)..olha diferença. Branquinho vc ja pagou mico em não ficar calado..pelo menos manda alguém dar uma garibada na praça da Igreja, como bom vicentino que é. (zonóbio)